sexta-feira, setembro 04, 2009

Mar salgado



A ilha é negra. A casa é junto ao mar, rodeada de rochas. Virada para o imenso atlântico. Apenas uma pequena estrada e um paredão de rochas separam a casa da água. Tão perto que já o mar a banhou de Inverno.

Estendida na espreguiçadeira não dou pelo tempo que passa. Descanso, enquanto, lá atrás, no forno a lenha, está a assar o jantar de cerca de vinte pessoas: um belo de um bicho que encheu a mala térmica, vindo do outro lado do oceano. Vai para duas horas que o forno está ocupado com ele e, agora, já só é preciso deixá-lo lá ficar, sossegadinho, a acabar de tostar, até estar pronto para o manjar da noite nesta fresca esplanada, à luz dos candeeiros, que hão-de alumiar também a farra pela noite dentro.
Por isso, agora fico esticada, também eu, a corar um pouquinho ao sol – mas só um pouquinho mesmo, que não quero ficar tostada como o bicho que está no forno.
Fecho um pouco os olhos e quando dou por mim vejo-me sozinha… todos me abandonaram. Uns foram mergulhar, outros às compras, outros passear e deixaram-me sozinha na casa.
Levanto-me, vou espreitar o forno e volto a preguiçar. É então que sinto o apelo do mar. As ondas batem nas rochas: chamam por mim. Levanto a cabeça por cima do muro do jardim e, para lá das rochas, repouso o olhar ao longe onde se beijam o mar e o céu. É hora de sentir o afago das ondas, de me inebriar do seu sal. Ponho-me a caminho na sua direcção: atravesso a estrada em linha recta, qual sonâmbula, e pulo de rocha em rocha em ziguezague. Desço. Estou lá. E mergulho os pés nos seus beijos, com vontade de imergir toda nos seus lábios que fazem questão de me beijar. Mas tenho medo que ele me sufoque num abraço apertado de encontro às rochas. Ele, às vezes, é um namorado maroto e cruel que não se importa de magoar. O mesmo mar que, para lá destas rochas negras de lava do vulcão, desde sempre tem inspirado tantos poetas.

“Oh mar salgado,
Quanto do teu sal são lágrimas de Portugal!”

A ilha é negra. Mas o imenso oceano é o mesmo.

10 comentários:

teresa disse...

aiiiii que inveja , he he he
a tua descrição foi tão intensa ,
que até parecia que eu tava lá contigo ,,,
que maravilha minha amiga , aproveita cada segundo .

beijinhos

gaivota disse...

é mesmo só para abrir o apetite...
linda descrição!
pois é, o mar às vezes "esquece" quem o ama ou quer bem e... traz lágrimas a todos...
lágrimas de portugal!
bom fim de semana
beijinhos

Fenix disse...

Olá
Bom dia!

Presentes mágicos aqui.

Beijinhos
São

António Machado disse...

Amiga Fa menor, Parabéns pelo texto, pleno de vivacidade e realismo.

Vim aqui por indicação dos amigos comuns Isabel e José António, dos blogues Poesia Viva e O Caminho do Coração, para a convidar a visitar o meu blogue sobre Vegetarianismo.

Lá encontrará a filosofia em que assenta este regime alimentar bem como receitas simples e saborosas.

Seja bem vinda.

António Machado

antonior disse...

Evoca a Ilha do Fogo...

Sobre as rochas negras a espuma é mais branca.

Beijinhos

fontez disse...

relaxante.
adoro andar por este cantinho,...!

admiro-te Fa.
:)

bj grande.

fontez disse...

ah e ja me esquecia, "Wallace" é o ser q mora em mim q mais gosto, romantico e sonhador, ao contrário do "Milton" que é realista e racional.

bj grnade

Ailime disse...

Amiga Fá,
Lindo este texto! Muito bem escrito.
Muito interessante a forma como fala do mar!
Parabéns!
Deve estar numa espécie de paraíso!
Continuação de boas férias bem descansadas!
Beijinhos.

Nilson Barcelli disse...

Tens perfil de escritora querida amiga.
Este texto poderia ser o início de um romance. Tem o ritmo e o balanço necessários. Bastaria que continuasses ao sabor das ondas da tua imaginação.
Bom resto de Domingo e boa semana.
Beijo.

pico minha ilha disse...

Não diga que aqui esteve ou ainda está?
Vi por aqui pelo blog da São.Saudações Picarotas

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