quarta-feira, maio 04, 2011

Ai. A gente nem vê...

Ai senhor das furnas
que escuro vai dentro de nós
rezar o terço ao fim da tarde
só para espantar a solidão
e rogar a Deus que nos guarde
confiar-lhe o destino na mão

De que adianta saber as marés
os frutos e as sementeiras
tratar por tu os ofícios
entender o suão e os animais
falar o dialecto da terra
conhecer-lhe o corpo pelos sinais

E do resto entender mal
soletrar assinar em cruz
não ver os vultos furtivos
que nos tramam por detrás da luz

Ai senhor das furnas
que escuro vai dentro de nós
a gente morre logo ao nascer
com olhos rasos de lezíria
de boca em boca passando o saber
com os provérbios que ficam na gíria

De que nos vale esta pureza
sem ler fica-se pederneira
agita-se a solidão cá no fundo
fica-se sentado à soleira
a ouvir os ruídos do mundo
e a entendê-los à nossa maneira

Carregar a superstição
de ser pequeno ser ninguém
mas não quebrar a tradição
que dos nossos avós já vem.
(Isabel Silvestre - A gente não lê)

10 comentários:

Maria Luiza disse...

Olá, Fa, que delícia ouvir a música e ler esse poema tão tocante. Obrigad pela excelente partilha! Bjbjbj!

teresa disse...

só tu miga para descobrires esta preciosidade , eh eh eh ...

beijocas grandesssss ..

xistosa, josé torres disse...

Quem entende o suão, aquela 'brisa' que aperta e martiriza os mais fracos?
Que os ancestrais temiam e continua a ceifar...
Não é superstição.
É a afirmação da vida perante a morte!!!

Unknown disse...

Bom dia Fá menor
Ontem estive aqui e quis escrever mas o cansaço era tanto que nada consegui dizer.
Obrigado pela música que me chega nesta madrugada e pela mensagem de rara beleza. Bem hajas.

Lilá(s) disse...

Que coisa linda!
Bjs

gaivota disse...

lindíssimo vídeo! o tema já conhecia, está muito enquadrado das imagens...
beijinhos

Ailime disse...

Fá, boa tarde!
Belíssimo!
Obrigada pela partilha.
Não conhecia.
Beijinhos.
Ailime

MARILENE disse...

Tudo lindo, Fá! Uma preciosa escolha. Bjs.

Ailime disse...

Boa noite Fá,
Não conhecia da primeira vez que passei por aqui, mas depois ouvi imensas vezes e não me canso.
Isabel Silvestre uma das mais belas vozes portuguesas e a canção sempre atual.
O poema é tocante!
Adorei reouvi-la aqui.
Um beijinho e bom fim de semana, com saúde.
Ailime

Majo Dutra disse...

Sempre apreciei o trabalho que Isabel Silvestre fez pela cultura de Manhouce...

Esta canção é linda e icónica...

O bom gosto passeia-se por aqui...

Beijinhos
~~~~

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