(Praia Fluvial do Mosteiro)
Na hora de almoço tudo é verde na praia fluvial.
Há verde reflectido na água. E verdes ficam os corpos depois do mergulho.
Começa a chover: uma chuva miudinha molha tolos.
Tolos, sim, nós todos que saímos de casa com o tempo cinzento e já a pingar. "Está marcado, está marcado!" "Está tudo preparado, agora não se volta atrás." Pronto, cedi. Desta vez atestei o depósito antes de sair, não fosse acontecer, como da outra vez, não haver aonde no meio da terra do nunca.
O verde parece estar suspenso nas gotinhas finas que apontam em direcção ao solo, também ele verde. Dali a pouco já o sol espreita por entre a folhagem verde das árvores verdes que nos sombreiam. O cheiro da relva molhada inunda os pulmões, e o som da queda de água, verde, mistura-se aos acordes da viola e às vozes verdes em coro: "O Joel tinha uma bola que rolava pelo chão"; "Olha a bola, Joel, olha a bola, Joel, foi-se embora, fugiu" pela água fora, nunca mais ninguém a viu. E soam verdes as gargalhadas.
Verde é a praia fluvial à hora de almoço. E verdes ficam os pés a correr descalços pela relva... a saltar, a pular.
Na praia fluvial há hora de almoço verde. Aliás, na praia fluvial todo o dia é verde!