Terça-feira à tarde é hora de Animação. E que animação! O Centro de Dia é o palco. Uma sala com cerca de duas dezenas de idosos que, de maneira surpreendente, passaram a tornar tão agradáveis as minhas tardes de terça-feira. E as deles também, que eu bem percebo!
Era um grupo de idosos, de certo modo, parado e desmotivado, por falta de uma presença mais assídua que lhe dinamizasse actividades recreativas na sala, o que nem sempre acontecia por alguma limitação de tempo dos recursos humanos afectos a esta resposta social de Centro de Dia. Pretendeu-se a transformação desse grupo a partir da dinamização, mobilização e implicação dos próprios indivíduos do grupo no sentido do seu desenvolvimento, o que aconteceu com relativa facilidade, uma vez que já conhecia pessoalmente a maioria dessas pessoas, e também procurei mais alguma informação acerca dos seus gostos, necessidades, interesses e motivações, bem como das suas potencialidades.
Procurando ir ao encontro dos interesses destes idosos, tenho vindo a dinamizar actividades de Animação Sociocultural com canções populares, histórias e contos populares, jogos, anedotas, adivinhas, rimas, lengalengas, partilhas de saberes e de experiências e estórias de vida.
As actividades desenvolvidas vêm-se direccionando a estimular a actividade cognitiva, a promover a comunicação, convivência e ocupação do tempo dos idosos, de maneira atractiva, transmitindo-lhes alegria e boa disposição, despertando-lhes vontade e gosto, de forma a evitar-lhes a alienação e a passividade, mas procurando respeitar sempre as suas capacidades, hábitos, interesses, potencialidades, expectativas e a individualidade e estado de espírito de cada um.
Reservei sempre o mesmo dia da semana, terça-feira, e o mesmo horário, de modo a criar uma rotina que os mantivesse despertos para estas actividades, naquele dia e àquela hora.
Uma tarefa que me tem dado muito gozo realizar, por ir constatando o agrado e a satisfação destes idosos, e verificar que vou contribuindo para alguma mudança no sentido de lhes melhorar a auto-estima e o bem-estar.
Conto-lhes uma história. Pego na viola. Gostam de cantar, de dançar. Vou puxando por eles. E então, pergunto-lhes, quem fez o trabalho de casa? O que têm hoje para me ensinar? E eles colaboram. Contam histórias, anedotas, e tenho de pôr um travão no senhor Albino que só sabe das cabeludas, e algumas senhoras também sabem canções das boas, às quais tenho de saber dar a volta:
Ai o caipira já não vai p’ra militar
O caipira mete e tira e sai p’lo mesmo lugar
Ai o caipira eu hei-de o mandar prender
O caipira mete e tira e eu também já sei meter.
Risada geral, a começar por mim, que não me contenho!