*A Vaca, o Burro e Nós

A manjedoura faz-nos pensar nos animais que encontram nela o seu alimento.

“O boi conhece o seu possuidor, e o jumento a manjedoura do seu dono; mas Israel não tem conhecimento, o meu povo não entende” (Isaías 1,3) (...)  uma profecia que apontava para o novo povo de Deus, a Igreja composta tanto por judeus como por gentios.

Diante de Deus todos os homens, Judeus e Gentios, eram como a vaca e o burro, sem razão nem conhecimento. Mas a criança no presépio abriu-lhes os olhos e agora reconhecem a voz do seu Mestre, a voz do seu Senhor.

(...) uma questão de lógica uma vez que os dois animais eram considerados símbolos proféticos para o mistério da Igreja – o nosso próprio mistério, uma vez que não passamos de vacas e burros diante do Deus Eterno, vacas e burros cujos olhos se abrem na noite de Natal, para que possam reconhecer o seu Senhor no presépio. 
(...)
Quem são a vaca e o burro hoje, e quem são “o meu povo” que não compreende? Como podemos reconhecer a vaca e o burro? Como podemos reconhecer “o meu povo”? E porque é que o irracional reconhece, enquanto a razão é cega? 

Aquele que não o reconheceu foi Herodes, que nem compreendeu aquilo que lhe disseram sobre a criança: em vez disso o seu desejo de poder e a paranoia que o acompanhava cegaram-no ainda mais (Mt. 2,3). Aqueles que não o reconheceram eram “toda Jerusalém com ele” (ibid). Aqueles que não o reconheceram eram as pessoas “ricamente vestidas” – aquelas com posição social elevada (11,8). Aqueles que não o reconheceram eram os mestres do conhecimento que eram especialistas na Bíblia, os especialistas na interpretação bíblica que, admita-se, conheciam as passagens correctas nas escrituras, mas mesmo assim não compreendiam nada (Mt. 2,6). 

Mas aqueles que o reconheceram foram “a vaca e o burro” (...): os pastores, os magos, Maria e José. (...) Aqueles de condição social elevada não estão no estábulo onde descansa o menino Jesus, mas é aí que vivem a vaca e o burro.

E nós? Estamos longe do estábulo porque as nossas roupas são demasiado ricas e somos demasiado inteligentes? Envolvemo-nos de tal forma na exegese sofisticada das Escrituras, nas demonstrações da inautenticidade ou da verdade histórica de passagens individuais, que nos tornamos cegos ao menino em si e não entendemos nada dele? 
(...)
As caras da vaca e do burro olham para nós com uma interrogação: O meu povo não compreende, mas tu discernes a voz do teu Senhor?» 




 *Do artigo traduzido por Filipe d'Avillez 
em Actualidade Religiosa, A Vaca, o Burro e Nós,
 Do Excerto do livro “A Bênção do Natal”, de Joseph Ratzinger
Publicado pela primeira vez na segunda-feira, 25 de Dezembro de 2017 
em The Catholic Thing, The Ox, the Ass, and Us.

12 comentários:

By Me disse...

Os mais simples são os que melhor reconhecem a grandeza de Deus. Não é por acaso que Jesus foi buscar os seus apóstolos nos mais humildes de coração, para poder escrever sobre o branco das mentes. Os outros já tinham a mente cheia de teorias e iriam contradizer as verdades que Cristo precisava transmitir. Apesar de tudo, Jesus continua a ser o maior herói de todos os tempos, com muito mais seguidores do que qualquer facebookiano. Foi o mais pobre entre os pobres e o mais inteligente entre os inteligentes.

Gostei muito do texto. Terei de reler.
Beijinho e bom ano 2018

Parapeito disse...

Belo texto, gostei muito.
Grata pela passagem pelo Parapeito.
Que estes dias sejam dias serenos.
Tudo de bom para os dias que estão para vir.
Abraço*

_ Gil António _ disse...

Lendo e meditando
.
Tema: * O Silêncio da Luzência em noite escura *
.
Continuação de um Ano Feliz
Boa tarde

alfacinha disse...

que vivemos todos uma vida humilde
um feliz Ano Novo

Teresa Isabel Silva disse...

Deixa uma pessoa a pensar!
Aproveito para desejar um bom fim-de-semana!

Bjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram | Youtube

Majo Dutra disse...

Gosto de interpretações mais simples. Srrssss...

Tudo pelo melhor.

Beijinhos
~~~~

MARILENE disse...

É na simplicidade que mora a verdade. A humildade sempre será caminho certo para Deus. Bjs.

J.P. Alexander disse...

Bella reflexion. Te mando un abrazo y te deseo una feliz navidad para ti y los tuyos.

Porventura escrevo disse...

Um excelente artigo, bem enquadrado na época que ainda atravessamos
:-)

Jovem Jornalista disse...

Gostei desse post cultural. Bem interessante.

Boa semana!



Até mais, Emerson Garcia

Mário Margaride disse...

Olá amiga!
Muito interessante texto aqui partilha. Sem dúvida adequado à quadra que atravessamos.

Espero que o Natal tenha sido bom, com muita alegria amor e paz.
Deixo os meus votos de continuação de festas felizes, e um ANO NOVO de 2024, com tudo de bom!
Beijinhos!

Mário Margaride

http://poesiaaquiesta.blogspot.com

Isis Gracielli - Heranças de Amor disse...

Fá, gratidão pela visita e pelo comentário.
Bela publicação! Infelizmente, estamos tão densos, tão distante da evolução espiritual, que não enxergamos. Vejo tanta gente falar em amor, mas não sabe de fato o real significado. Esse amor espiritual não conhece ódio, ressentimentos, indiferenças e vinganças. Isso faz com que o homem se distancie de tudo que possa nos possibilitar o crescimento e leveza de alma.
FELIZ ANO NOVO! Que seja um ano de muita saúde, realizações e sorrisos.
Bjs

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