sábado, agosto 30, 2025

Nos valores do Reino

«Shalom!

Será bom saber que shalom, em hebraico, significa paz! É uma saudação claramente bíblica. 
Além de saudar, quero desejar-vos essa paz que só o Senhor pode dar. E que permaneça sempre convosco! Para que tal aconteça, deveremos vivê-la com verdade, no mais profundo do nosso ser. Por isso, numa paz com Deus, com os outros, com a natureza, connosco mesmos. Além disso, seremos bem-aventurados (felizes), se formos construtores da paz!

Este é um dos muitos valores que devemos evidenciar no testemunho da nossa vida e do empenho duma fé comprometida. São os valores do Reino, que o Evangelho nos convida a descobrir, como a humildade, a gratuidade, o amor desinteressado. Mas só na regularidade duma vivência cristã podemos fazer essa descoberta, para dar o maior sentido à nossa vida.

 

Vamos avançando na caminhada do ano litúrgico, com o XXII Domingo comum. 
Como sempre, procuramos alimentar-nos da Palavra de Deus, para que ela nos leve a experimentar a aliança de amor com o Senhor e as atitudes coerentes com a vivência da fé. Para termos êxito e sermos felizes, procuremos adquirir a sabedoria que ela nos inspira, particularmente no espírito de humildade. Assim aconselha a primeira leitura. 
Tentados à instalação numa fé cómoda e pouco exigente, procuremos redescobrir a essência do cristianismo: uma experiência de comunhão verdadeira com Deus, na vivência comunitária. É o que nos propõe a segunda leitura. 
Com o Evangelho, somos convidados ao banquete do Reino, com atitude de humildade, e sem espírito de superioridade, em relação aos outros.

 

"Deus do universo, de quem procede todo o dom perfeito, infundi em nossos corações o amor do vosso nome e, estreitando a nossa união convosco, dai vida ao que em nós é bom e protegei com solicitude esta vida nova. Por NSJC…" (Oração de colecta do XXII Domingo comum)

 

Porque o Senhor é a fonte duma vida em plenitude, invocamos os seus dons, para realizar o que há de melhor em nós, e crescermos na vida nova, estreitando a relação com Cristo.

 

"Quem se exalta será humilhado e que se humilha será exaltado."   (Evangelho: Lc. 14, 1.7-14)

 

Na humildade e na verdade, agradeçamos o amor que Deus nos tem, ao dar-nos a alegria de participar na Eucaristia, verdadeira boda do Reino. Na gratuidade desse amor, preparemo-nos para o banquete da glória, na ressurreição final. Mas é já antecipação e realização, hoje, na vida da comunidade. O convite é universal, mas só quem o acolhe beneficia, e será feliz!»
(Pe. Armando Duarte, partilha/reflexão para o XXII Domingo comum ano C e semana que se lhe segue)

«somos todos de barro.
Somos terra.
E somos chamados a ser o lugar feliz onde o outro se possa encontrar.

À mesa, Jesus não fala de etiquetas, nem de lugares de honra.
Ele propõe os valores do Reino.
E no banquete da vida não basta dar e receber generosamente: é preciso acolher com gratuidade aqueles que nada podem oferecer em troca.

No Reino de Deus, todos têm lugar.
Seja qual for a origem, a crença ou a história de vida.
Ali não valem privilégios, nem méritos exclusivos, nem dignidades adquiridas.
Ali só conta a bondade, a humildade, a hospitalidade.

Por isso, não procuremos “ter um lugar”...
Sejamos antes um lugar para os outros.
Aberto, disponível, gratuito.
Um espaço de vida, de encontro e de amor.

Porque o Banquete da Vida não é troca de favores,
mas dom gratuito.»

sábado, agosto 23, 2025

A salvação é oferecida a todos…

mas a entrada não é automática.


«Saúdo a todos com amizade! 

Quando nos saudamos, estamos a desejar e a transmitir aos outros a salvação de Deus. Por isso, o povo interiorizou na sua cultura, que não se nega a “salva” a ninguém. Se nos cruzamos com alguém, e lhe dizemos “bom dia”, é a forma mais breve de dizer “bom dia nos dê Deus”, como faziam os nossos antepassados. Mas usavam-se outras saudações, com sentido cristão, como me recordo a que fazia um morador, no meu lugar de infância e naturalidade: “louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo”. Por isso, saudar alguém é transmitir-lhe a salvação de Deus. 
Mesmo longe, a saúde e a salvação para todos! 

 Vivemos o XXI Domingo comum, em que a liturgia da Palavra nos oferece também a salvação de Deus. É um dom, para todos sem excepção, mas importa cooperar com a iniciativa divina, de modo a experimentar a salvação, porque esta tem que ser vivida. E para isso, ela deve sentir-se no nosso coração. O bom Deus oferece-a, mas cada um precisa de se afeiçoar, para a acolher, e deixar transformar o mais profundo de si mesmo. É este o mistério do Reino, o mundo novo, que Jesus nos oferece, levando à vida plena, à felicidade verdadeira e total.

Deus trata-nos como filhos, assim nos lembra a segunda leitura, e por isso não nos extraviemos do caminho que nos leva a experimentar o Seu amor, sem desânimo, e deixando-nos corrigir, para que sejamos curados e salvos.


   

 "Senhor Deus, que unis o coração dos fiéis num único desejo, fazei que o vosso povo ame o que mandais e espere o que prometeis, para que, no meio da instabilidade deste mundo, fixemos os nossos corações, onde se encontram as verdadeiras alegrias. Por NSJC…" (Oração de colecta do XXI Domingo comum)

 

Tenhamos cuidado, e não nos distraiamos e desviemos. Que o nosso coração mergulhe na fonte, que permite a realização do que há de mais belo e profundo, em Deus. Só assim experimentaremos a verdadeira alegria, felicidade e realização plena!

 

"Esforçai-vos por entrar pela porta estreita" (Evangelho: Lc. 13, 22-30)

 

Numa casa, a porta estreita dá acesso à intimidade do lar. Em paralelo, a porta larga é por onde se estabelece o comércio, a relação do negócio… 
Queremos passar pela porta que leva à relação pessoal, de comunhão. É pela oração, na intimidade com Deus, com Cristo, que encontramos o caminho, para experimentar o Reino e a vida plena, que Ele nos oferece.

 

D. Manuel Pelino, sobre a porta estreita:
“E esclarece que, para se salvar, não basta dizer que se é membro da Igreja ou que pratica alguns ritos e até ouviu algumas prédicas. Importante é passar pela porta estreita. Ora Jesus afirmou-se como a “verdadeira porta” que nos introduz na luz e no amor de Deus”. Por isso devemos interrogar-nos se estamos a procurar passar, pela porta que leva à intimidade com Jesus, ao encontro com Ele na Eucaristia e na oração, à experiência de vida comunitária"»
(Pe. Armando Duarte, partilha/reflexão para o XXI Domingo comum ano C e semana que se lhe segue)

«Quantas vezes na vida… 
temos de passar por lugares estreitos.
(...)
e percebemos que nem tudo cabe pela porta. 
O supérfluo fica para trás. 
Só o essencial entra connosco. 

Assim é o Evangelho de hoje. 
Jesus não ameaça… convida.
A porta estreita é o caminho do coração livre. 
Não entram máscaras, nem orgulhos. 
Só passa quem ama. 
Quem perdoa. 
Quem partilha. 
Quem permanece fiel.

A salvação é oferecida a todos… 
mas a entrada não é automática. 
Não basta estar perto. 
É preciso deixar-se transformar. 
Não basta conhecer o Nome… 
é preciso conhecer o Rosto.

A porta estreita educa o coração.
Às vezes dói. 
Às vezes exige deixar cair o excesso. 
Mas abre para a verdadeira liberdade. 

E hoje, diante desta porta, 
a pergunta é simples e decisiva: 
Que pesos ainda carrego? 
O egoísmo? O medo? As falsas seguranças? 

Só o coração leve… 
entra na plenitude da Vida.»

sábado, agosto 16, 2025

Com fogo no coração

«Vamos avançando neste tempo de férias e, por um lado, me alegro pelo que elas proporcionam, com repouso e recuperação de forças, mas por outro, não deixo de lamentar que muitos não sejam capazes de mudar os “registos”, e terem a capacidade de perceber que a fé tem que ser alimentada, e por isso se torna imperativo a participação regular na Eucaristia, na vida sacramental, comunitária e na oração. Apesar de tudo, felizmente, há sempre crianças e adolescentes, que são regulares à Eucaristia, o que é sinal de estes entenderem e progredirem! Bendito seja Deus!

 A este respeito cito o Papa Francisco, que deixou conselhos para as pessoas que se encontram a gozar férias, no Verão, recomendando que encontrem tempo para a oração e a partilha. Assim se exprimiu: “Desejo que o período de férias seja para vós um tempo de descanso e também uma oportunidade para reavivar os laços com Deus e os homens. Não descureis a oração diária, a participação na Eucaristia dominical e a partilha do tempo com os outros”, referiu. Melhores palavras, e com toda a credibilidade, não pode haver! Vive-as!

 

Estamos no XX Domingo comum; e recordo o dia 15 – a solenidade da Assunção de Nossa Senhora –, num quadro fundamental para a nossa fé, também um convite à participação na Eucaristia e a conhecer o sentido da nossa caminhada para o céu! 
Neste domingo, Deus convida-nos a um compromisso, corajoso e coerente, com a construção do "novo céu" e da "nova terra". É essa a nossa missão profética. E Jesus está ansioso para que se realize! Oxalá que eu e tu o entendamos!

"Deus de bondade infinita, que preparastes bens invisíveis para aqueles que Vos amam, infundi em nós o vosso amor, para que, amando-vos em tudo e acima de tudo, alcancemos as vossas promessas que excedem todo o desejo. Por NSJC…" (Oração de colecta do XX Domingo comum) 


Deus ama a todos, sem fazer acepção de pessoas, mas aqueles que procuram corresponder-lhe, “em tudo e acima de tudo”, acolhem graças, acima do que podem imaginar. Amemo-lO!


"Eu vim trazer o fogo à terra…"  (Evangelho: Lc. 12, 49-53)


Peçamos o fogo do Espírito Santo, que queime as nossas amarras, que nos renove e nos dê um coração novo! O Espírito vem rezar em nós.»
(Pe. Armando Duarte, partilha/reflexão para o XX Domingo comum ano C e semana que se lhe segue) 


"Hoje, o Evangelho confronta-nos com a realidade da decisão:

«Pensais que Eu vim estabelecer a paz na terra? Não. Eu vos digo que vim trazer a divisão. » (Evangelho: Lc. 12, 49-53)

Jesus não veio trazer neutralidade. 
Ele chama-nos a optar, escolher, decidir. Não podemos segui-lo “a meio gás” – ouvi-lo hoje e esquecer amanhã. Ele exige uma escolha clara: por Ele ou contra Ele.

Não há lugar para meias medidas, para uma paz que não confronta:
que não contesta por medo;
que não discute para não perder o lugar;
que não denuncia por comodismo;
que não se afirma por vergonha.

Precisamos de pessoas decididas, com fogo no coração, capazes de incendiar o mundo e a paróquia com a novidade do Evangelho. Sem esse fogo, seguir Jesus é impossível.

Decidir é o menos fácil… mas só assim podemos viver uma fé autêntica, transformadora, que não se conforma com a indiferença ou com um cristianismo diluído em tradições vazias."

segunda-feira, agosto 11, 2025

“onde estiver o vosso tesouro, aí estará o vosso coração”

«Aqui estamos de novo, na continuidade da união que temos no Senhor, uns com os outros, como fruto da vivência eucarística. Na nossa pequenez cósmica, experimentamos uma dimensão infinitamente superior quando correspondemos ao dinamismo da fé, que nos projecta na caminhada de encontro com Deus. Não queremos estar apáticos e adormecidos, mas atentos ao compromisso de sermos discípulos de Jesus Cristo, numa vigilância activa da fé, que leva ao encontro dos bens e das realidades que não se vêem, como nos lembra a segunda leitura da Eucaristia deste domingo.

Temos a alegria de viver o XIX Domingo comum. 
A Palavra de Deus convida-nos a acolher o Senhor, para escutar os seus apelos e construir o Reino, “chamando-nos”, refere a primeira leitura. 
A Epístola aos Hebreus convida à experiência da fé, como Abraão. 
No evangelho, Jesus fala aos seus discípulos como “pequenino rebanho” (Lc. 12, 32), para lhe mostrar o que deve fazer, para que os tesouros deste mundo não sejam prioridade. 
Por isso, devemos estar vigilantes, à espera do Senhor, usando os bens, para acumular “um tesouro inesgotável nos céus” (Lc. 12, 33). Daí que se espere uma atitude de despreendimento e partilha com os mais necessitados, num coração liberto dos apegos terrenos, mais afeiçoado aos bens do alto, porque “onde estiver o vosso tesouro, aí estará o vosso coração” (Lc. 12, 34). Para isso, peçamos a Deus a confiança, para vivermos como filhos.

Deus eterno e omnipotente, a quem podemos chamar nosso Pai, fazei crescer o espírito filial em nossos corações, para merecermos entrar um dia na posse da herança prometida. Por NSJC…(Oração de colecta do XIX Domingo comum) 

O espírito filial, que deveremos experimentar regularmente, e fazer crescer, convida a levar-nos à relação com Deus Pai, para que a vida cresça em nós, de modo a usufruirmos um dia a felicidade da herança prometida, “o tesouro inesgotável do Reino”!

"Estai vós também preparados…" (Evangelho: Lc. 12, 32-48)

Reza! Faz encontro! Prepara-te! Jesus ama-te!
Levanta-te! Vamos em frente!»
(Pe. Armando Duarte, partilha/reflexão para o XIX Domingo comum ano C e semana que se lhe segue) 

 
«E Jesus pergunta: Onde está o teu tesouro? 
No sucesso? No dinheiro? No conforto? No que os outros pensam de ti? 
Ou… está em Deus, que não falha, que não desiste, que te conhece e te ama até ao fim?
(...)
que Ele nos encontre assim: 
De coração firme. De lâmpada acesa. 
E com o nosso tesouro… guardado n’Ele.»

sábado, agosto 02, 2025

Ricos aos olhos de Deus


«Com os votos de que não façais férias na relação com Deus, tal como os ramos devem estar unidos à cepa, para frutificar, aqui estamos a dar continuidade a esta partilha, para podermos vivificar, a partir da seiva que nos vem do Senhor, na grande graça da Eucaristia.
Há claramente uma advertência, a não sermos insensatos, e cairmos no vazio, em que podemos incorrer, se nos deixarmos levar, e contaminar, apenas pelos bens e valores deste mundo, acabando por colher uma tremenda desilusão, no nosso projecto de vida. Não nos iludamos, e procuremos mergulhar na verdadeira fonte de vida, que Jesus Cristo nos propõe e a liturgia alimenta.

Vamos então viver a grande riqueza que a Eucaristia deste XVIII Domingo comum nos proporciona. Convida-nos a questionar a atitude que tomamos face aos bens deste mundo. Eles não podem ser deuses a comandar o nosso sentido de vida. 
A 1ª leitura alerta para o vazio e desilusão, que podemos colher, se não nos advertimos a procurar afeiçoar-nos às coisas do Alto, como nos sugere a 2ª leitura, porque “a vossa vida está escondida com Cristo em Deus” (Col. 3, 3), assim nos lembra. E o evangelho é uma clara denúncia para a falência duma vida voltada e dominada pelos bens materiais. Então, não sejamos insensatos e loucos!

"Mostrai, Senhor, a vossa imensa bondade aos filhos que Vos imploram e dignai-Vos renovar e conservar os dons da vossa graça naqueles que se gloriam de Vos ter por seu criador e sua providência. Por NSJC…" (Oração de colecta do XVIII Domingo comum)

O evangelho do passado domingo convidava à oração confiante, pois “quem pede, recebe”. Como filhos, que Deus muito ama, pedimos hoje o que mais precisamos, os dons da graça de Deus, para saborearmos a bondade e a providência divina.

Em oração, deve pedir-se a bênção de “se tornar rico aos olhos de Deus”. (Evangelho: Lc. 12, 13-21)

Esta graça é de modo a remar contra a maré. Damo-nos conta de que, hoje, na sociedade, muita gente só pensa em si, nos seus bens, no que é material e visível, naquilo que o mundo sugere. Mas, afinal, para que serve, se partimos e deixamos tudo, se nada podemos transportar para a vida eterna? O que permanece para sempre é que devemos desejar: para nos afeiçoarmos às coisas do Alto, que não se corrompem, de modo a que façam parte de nós mesmos. Então, procuremos tornar-nos ricos “aos olhos de Deus”. É o que vale a pena! Peçamos essa riqueza!»
(Pe. Armando Duarte, partilha/reflexão para o XVIII Domingo comum – ano C e semana que se lhe segue) 


«Tem cuidado com o desejo desenfreado, insano de possuir dinheiro, objectos preciosos, coisas para te gabares, seres notado, seres visto, despertares interesse, inveja. Mas também, tem cuidado com o desejo de possuir e controlar pessoas. Esposa, marido, filhos, pais.
(...)
 porque tua felicidade não depende do julgamento dos outros, de gostos, de notoriedade, da tua aparência.
(...)  
Jesus não diz que a riqueza é uma coisa suja. Só diz que é perigoso. Porque o nosso coração é forjado para o infinito e só o infinito pode finalmente satisfazê-lo.»

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